7.31.2005

OS FACTOS: 32 No julgamento esteve presente a acusação, representada pelos três polícias envolvidos na detenção e nos acontecimentos que se seguiram dentro da esquadra - o polícia que me deteve frente à Comissaria e que me forçou a entrar dentro da mesma, ameaçado pelo seu cacete; - o polícia mais velho (o único armado com uma pistola) que desceu ao átrio com o objectivo único de me agredir; - o polícia que na altura estava vestido à civil (com um pólo verde escuro a publicitar uma marca de whisky e umas banais calças de ganga).
Os factos: 31 Regressámos a Pontevedra no dia 20 de Junho, véspera do dia do julgamento, já que o mesmo iria ter lugar às 8.30 h (locais) e não queríamos correr o risco de nos atrasarmos.

7.27.2005

OS FACTOS: 30 Quando saímos, e enquanto tomávamos um café, mostrei ao advogado todas as fotos que fiz no dia anterior até ser detido. Não há uma única tirada objectivamente ao Comissariado!
OS FACTOS: 29 No balcão da secretaria dos Julgados, devolveram-me a máquina que retiraram de um envelope da Polícia, onde constavam os dados do aparelho (modelo, nº de série,etc). Como não tinha aceite o acordo marcaram então um julgamento oficial para a seguinte Terça-Feira (21 de Junho). Pediram-me que, nessa altura levasse comigo a máquina e o cartão com as fotos, para que o Juiz pudesse ver (na máquina) a sequência das fotografias que tirei no dia anterior antes de ser preso.
OS FACTOS: 28 Quando chegámos ao local do julgamento, fomos informados pelo advogado espanhol que este já não se iria realizar pois a acusação tinha súbitamente mudado de crime para "falta" (uma espécie de mau comportamento, explicou-me. Propôs-me então um acordo que poria termo ao processo; Só teria de pagar uma pequena coima, asssinar um papel e o caso ficaria por ali. Recusei qualquer acordo, estavam em causa a minha dignidade, os meus direitos, a humilhação, e as brutais agressões fisicas e psicológicas de que fui vítima. Por outro lado, confirmei telefonicamente com a minha advogada que se aceitasse o dito não poderia agir legalmente contra os agressores pois esse papel que teria de assinar, caso aceitasse seria uma espécie de assunção de culpa... Desde que saí da esquadra, a chorar de raiva (não de dor), senti-me moralmente obrigado a denunciar este caso que pode acontecer a qualquer um de nós e a levar a minha razão e a minha indignação até às últimas consequências através de todos os meios legais ao meu alcance. Não porque deseje alguma espécie de protagonismo, mas, como disse por dever e por temer que o flagelo do terrorismo que marca os nossos dias, possa dar lugar ou servir de pretexto para a discriminação, a arbitrariedade, a xenofobia, o abuso da força. Tenho a convicção (veja-se o caso do Brasileiro morto a tiro no metro em londres e as posteriores e inacreditáveis declarações de Tony Blair sobre a actuação da polícia nesse caso, que se o terrorismo não for combatido eficazmente com inteligência, com astúcia, em silêncio, poderá finalmente atingir s seu objectivo, i.e.: aterrorizar todos os Europeus, utilizando os seus meios criminosos, mas, também aproveitando o resultado da "histeria" e falta de ponderação que, comprovadamente se vem instalando nas forças de segurança dos países já atingidos dramaticamente pelos seus actos brutais.
OS FACTOS: 27 De manhã vestimo-nos rapidamente. A Susana fez o check-out e pediu para chamarem um táxi pois informara-nos que o Julgado ainda era distante do hotel para ir a pé. Enquanto a Susana aguardava atentamente a chegada do taxi "corri" ao Posto da Net, junto à recepção e enviei uma mensagem com um breve relato do sucedido, para a comunidade de fotógrafos de que nessa altura eu ainda fazia parte (1000 imagens).
Os FACTOS: 26 Ficámos Hospedados num hotel mesmo no centro da cidade, para evitar qualquer atraso no Julgado.
OS FACTOS: 25 Saímos do Hospital já muito tarde e regressámos a Pontevedra para aí dormirmos pois o Julgamento seria no dia seguinte, muito cedo, e eu não podia correr o risco de faltar. Não consegui dormir, passei o resto da noite a tentar registar no meu pequeno caderno todos os pormenores que durante a minha "detenção" me esforcei por fixar obcecadamente. Alguns deles ilustram muitos dos factos aqui relatados.
No Hospital foram-me feitos diersos exames à cabeça e ao torax. Ficou lá também registada a queixa por« agressão», que provocou a minha entrada naquele Serviço de Urgências.
OS FACTOS: 24 Os hospitais portugueses mais próximos são os de Viana e de Braga. Optámos por Braga que fica a 53 Km da fronteira e, por outro lado, a Susana tem lá família, nomeadamente uma tia que presta volutariado no Hospital de S. Marcos e que poderia ajudar a abreviar o atendimento porque eu já me encontrava num estado de ansiedade perigoso, pelo sucedido e por não ter podido tomar a medicação que previne e evita esses "picos" de ansiedade que , no meu caso podem ser fatais.
OS FACTOS: 23 Em novo contacto com a nossa advogada portuguesa, a Susana relatou-lhe os últimos acontecimentos, pedindo-lhe o seu conselho sobre como agir a partir desse momento. A Advogada mostrou-se surpreendida e chocada, até porque tinha a ideia que a Polícia Espanhola não agredia os detidos. Aconselhou-a a conduzir-me logoque pudesse ao Serviço de Urgências de um Hospital Português, o mais próximo possível de onde estávamos, já que era importante que ficasse aí registada a queixa por agressão e que eu fosse rapidamente visto por um médico, dados os meus recentes antecedentes clinicos (AVC).
OS FACTOS: 22 O Guarda à civil foi ter com a Susana comunicando-lhe que eu saíria de imediato e reforçando a obrigatoriedade de me apresentar a Julgado no dia seguinte.
OS FACTOS: 21 A declaração foi corrigida de acordo com as minhas indicações. Assinei, fiquei com uma cópia, juntei o documento rasurado e saí com o advogado para a zona do átrio para que me fossem devolvidos osmeus objectos. Na secretaria devolveram-me tudo excepto a máquina fotográfica. Pedi que ficassem só com o cartão de memória, pois a máquina fazia-me falta. Explicaram-me que não era possível porque no dia seguinte a máquina teria de ser presente ao juiz, como prova.
OS FACTOS: 20 Li o documento e neguei-me a assiná-lo porque dizia que me tinha negado a identificar, o que era falso. O agente pediu-me então para dizer o que estava mal (aqui já sentia alguma ansiedade por parte da polícia em me pôr em liberdade o mais depressa possível). Fiz um rectângulo sobre a palavra "negou" e uma chamada para o fim da página onde escrevi «afirmou que não tinha consigo os documentos e que estavam com a mulher ali próximo e pediu para fazer um telefonema para que ela os levasse»
OS FACTOS: 19 Fizeram-me então o interrogatório já na presença do advogado oficioso espanhol que entretanto chamaram. O interrogatório foi praticamente sumário. Quando acabou, imprimiram o documento, pediram-me para ler e caso estivesse de acordo assinar.
OS FACTOS: 18 Depois disseram-me já com 'bons modos' que seria libertado em breve, depois de umas ligeiras formalidades, mas que teria de comparecer no dia seguinte de manhã ao Julgamento, sob pena de ser emitido um Mandado de Captura Internacional. Perguntaram-me se queria defesa gratuita (para isso teria de apresentar declaração de rendimentos) ou paga. Optei pela versão "Paga"e acrescentei «e boa». Pediram-me que aguardasse então a chegada do Advogado Oficioso que teria de assistir ao interrogatório que precede obrigatóriamente a libertação.
OS FACTOS: 17 Meteram-me de seguida um gabinete onde tive de pôr as impressões digitais em inumeras e diferentes fichas, onde fui fotografado (de frente, dos dois lados, com óculos, sem óculos...) Fui também medido tudo isto pelo guarda à civil, do polo verde com publicidade a uma marca de whisky
OS FACTOS: 16 Logo a seguir, estranhamente a a atitude dos guardas mudou. Perguntaram-lhe se não se queria sentar para estar mais confortável,etc,etc. O guarda à civil dirigiu-se a ela para a informar que eu iria sair em breve, e que ela não se preocupasse porque estava tudo bem e não me tinham feito mal nenhum. A Susana disse irónicamente que sim, que acreditava, mas que de qualquer modo tivessem cuidado com a minha cabeça... O guarda confessou então que se pudesse pararia o processo naquele instante, mas que já não o podia fazer, pois, uma vez que eu tinha sido algemado, significava detenção e teria de ir a Julgado, pelo que o processo já não podia ser anulado.
Os factos: 15 Quando a susana saiu começou num rodopio de telefonemas; para a nossa advogada em Portugal, para a família em Chaves e em Braga, para a irmã em Lisboa (também advogada),etc,etc.
OS FACTOS: 14- Concederam-lhe, ao fim de muita insistência dela, 3 minutos para falar comigo. Tiraram-me de novo as algemas e ela entrou. A Susana ajoelhou-se instintivamente junto de mim e de imediato o guarda ordenou « de pé e fala em voz alta!». Então, ela disse-me que iria falar muito depressa para que eles não entendessem, e perguntou-me se tinha sido agredido. Acenei que sim com a cabeça.
OS FACTOS:-13 Telefonou à Susana do meu telemóvel e disse-lhe para se dirigir ao Comissariado porque havia um problema comigo. Dois minutos depois a susana apareceu. Estava a 50 metros dali a fazer compras. Pensou que eu me tinha sentido mal ou que tinha caído e foi a correr. Quando a susana apareceu, o guarda pediu-lhe a minha identificação que ela prontamente deu. Quis saber o que se tinha passado sem que conseguisse obter qualquer explicação lógica ou plausível. O guarda começou por dizer que eu tinha fotografado o Comissariado. Ela educadamente perguntou se por lei não era permitido, ao que o guarda respondeu que essa situação ainda não estava muito clara... A Susana insistiu e perguntou de novo qual era então o motivo da minha detenção. O Guarda reformulou a argumentação dizendo que eu me tinha recusado a dar a identificação. A Susana disse-lhe que isso não era possível pois a minha identificação estava com ela e que ele (o guarda) o sabia uma vez que lhe telefonou do meu móvel para a pedir. Veio então novo argumento: Eu tinha sido agressivo. Ela respondeu-lhe que o que se estava a passar era incompreensível e insistiu para me ver.
OS FACTOS:-12 Ao fim de algum tempo apareceu com o meu telefone e pediu-me o nº do t.m. da Susana, porque tinha de falar com ela. Como não o conseguia desbloquear, apesar das minhas repetidas explicações, tirou-me finalmente as algemas para que eu o fizesse e marcasse o pretendido nº.

7.26.2005

OS FACTOS: 11- Conduziu-me ao corredor das celas onde continuou a agredir-me com violentas bofetadas muitas delas dadas com as duas mãos em simultãneo, sempre na cabeça. Mandou-me ficar à espera, sentado numa cadeira junto a uma pequena mesa onde apenas estava uma garrafa de plático cortada com água e beatas a boiar. Sentia-me mal. pedi que me tirasse os óculos para tentar deitar a cabeça na mesa (os óculos magoava-me). Negou. Durante o tempo em que ali estive, reparei que tratava cordialmente os detidos que ocupavam as sete celas do corredor; abria-lhes a porta para que fossem fumar ou à casa de banho, conversava e ria com eles, dava-lhes palavras de alento. Ainda mais perturbado fiquei pois não conseguia encontrar qualquer explicação para o que se estava a passar comigo,
OS FACTOS:10 Surgiu de uma escada un guarda mais velho, bem fardado, alto e espadaúdo com o cabelo e a barba muito ralos e já grisalhos. Pensei que vinha resolver a questão e acabar com o eventual mal entendido. Aproximou-se e a primeira abordagem que fez foi dar-me uma violenta estalada na cabeça, exactamente do lado onde recentemente sofri uma hemorregia cerebral (AVC). Pedi que não me batesse na cabeça, já que isso podia matar-me, pelo motivo que atrás referi. A resposta do guarda foi rápida: «não te preocupes porque se morreres, nós enterramos-te...» e continuou com as agressões.
OS FACTOS: 9- Fui forçado a pôr ambas as mãos na parede, e fui algemado. Apelei aos meus direitos, pedi a presença de um advogado ou de alguém do Consulado Português que pudesse intervir e acabar com aquele equívoco. Negaram. Pedi que me tirassem o relógio porque a algema foi apertada em cima dele e estava a ferir-me o pulso. Negaram. Um dos guardas presentes nem fardado estava, tinha vestido um polo verde com publicidade a uma marca de whisky e umas banais calças de ganga.
OS FACTOS: 8- No átrio confiscaram-me quase todos os objectos que trazia,.Só fiquei com os óculos e com o relógio.

7.25.2005

OS FACTOS: 7- Não cheguei sequer a falar com ela. Apareceu um guarda que me mostrou de relance um distintivo da polícia e me exigiu a identificação. Disse-lhe, em Castelhano, que não a tinha comigo pois estava na bolsa da minha companheira. Disse-lhe ainda que ela estava ali muito perto e pedi-lhe para me deixar telefonar para ela pois traria imediatamente a identificação. Não só não me permitiu usar o telemóvel como me empurrou à bruta, com o cacetete empunhado, para dentro do comissariado. Protestei naturalmente por não me deixarem fazer esse telefonema que tudo (achava eu) iria resolver.
OS FACTOS: 6- Em frente a esse edifício estava uma mulher sentada num degrau, junto a uma montra,com coisas ao colo e que me pareceu que estava a desenhar. Tirei-lhe uma fotografia e como sempre faço, mesmo que as pessoas não me vejam, dirigi-me a ela para a mostrar e perguntar-lhe se queria que eu apagasse a foto uma vez que não lhe havia pedido préviamente autorização, o que "estragaria o momento".
OS FACTOS: 5- A dada altura, um grande edifício chamou-me à atenção pela sua empena de um amarelo vivo, com várias nuances, que era graficamente e arquitectónicamente apelativo, fotográficamente também.
OS FACTOS: 4- Enquanto a susana tomava o pequeno almoço entrei por uma das ruas que convergem para a Praça e fui fazendo alguns registos fotográficos, sobretudo de edifícios e de situações urbanas como sempre faço diáriamente e em qualquer cidade ou local que visito, tanto na Europa como em África.
OS FACTOS: 3- Na manhã seguinte, fomos tomar o pequeno almoço (acordámos tarde para o tomar no Hotel)a uma praça notável do centro com uma esplanada onde nos sentámos
OS FACTOS: 2- Como Ponteareas fica muito próxima da fronteira,decidimos fazer a "ponte"-era fim de semana seguido de um feriado. Optámos, por isso por ficar em Pontevedra para conhecer essa cidade. Nessa noite, passeámos pelo "Casco Velho" onde aproveitei para fotografar.

7.24.2005

OS FACTOS: 1- Fui à Galiza com a minha companheira (Susana)passear, tendo como uma das principais motivações conhecer a casa e a terra onde viveu a minha já falecida avó, Maria Del Carmen.
Enquanto estive preso, e mesmo quando estava a ser agredido, concentrei-me em fixar todos os pormenores: os sítios, as caras, os detalhes, etc que registei nos dias seguintes no meu pequeno caderno de viagem. Mais tarde, em casa e em liberdade, passei esses registos para uma enorme tela acrilica, ex- cartaz de propaganda eleitoral que encontrei na noite anterior à agressão junto ao rio da cidade. Neste painel, a minha macabra história funde-se de certo modo com a história de Don Quixote de Cervantes, que aparece em primeiro plano, não com a tradicional espada, mas com a minha máquina fotográfica...