9.30.2005

"O DIA SEGUINTE"


No dia seguinte, decidimos dar um passeio com os miúdos pela cidade. Dirigimo-nos para o rio que no pequeno mapa fornecido pelo hotel, tinha uma enorme presença. Contudo, tal como em Portugal a seca há muito atingiu esta região e o que encontrámos foi um enorme e desolador "rio seco" cujo único interesse actual são os bonitos graffitis que adornam os muros que continham o desaparecido caudal. Invertemos então o sentido do passeio e caminhámos em direcção ao centro da cidade e foi nesse percurso que o céu de Granollers começou, para mim, a tornar-se mais negro. Tive a estranha sensação de ver perto de mim a mesma pessoa (um individuo novo, meio careca, atlético, vestido com um polo vermelho e umas calças de ganga , calçando uns ténis "Puma" brancos com a faixa que os caracteriza a preto, e sempre com o telemóvel na mão. Ainda achei que estava a "alucinar", mas era a hora da tradicional "siesta" e praticamente não se via ninguém nas ruas cujas lojas estavam, como é normal em Espanha, a essa hora, todas fechadas. Ainda assim, continuei calmamente sem dizer nada à Susana ou aos meus filhos para não estragar o passeio ou criar-lhes a mesma ansiedade que eu já sentia. No entanto, continuava a sentir os passos dele ao ritmo dos meus. Fui fingindo que não me tinha apercebido e continuei a tirar “fotografias de família” e da cidade. Deixei os meus acompanhantes ganharem alguma distância, demorando-me mais a fotografar um edifício, e, de repente, aproveitei uma esquina para subitamente inverter a marcha e enfrentar a já muito suspeita "sombra".
Assim que "dobrei" a esquina e dei com ele de caras, o fulano, que não contava com essa atitude, baixou-se apressada e atabalhoadamente, fingindo estar a abrir com o telemóvel a grade encerrada da loja mais próxima que por sinal tinha a entrada em nicho. Foi então que tive a confirmação que andava mais “acompanhado” do que supunha. Chamei a Susana à parte, disse-lhe a verdade, (ela também se lembrava de ter visto o mesmo tipo mais do que uma vez, coincidindo a sua descrição rigorosamente com a minha) e pedi-lhe para voltarmos para o hotel. A partir daí não tirámos os olhos dos miúdos, por um instante que fosse.